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A origem da epidemia de cesarianas e violência obstétrica no Brasil

Atualizado: 16 de ago. de 2021


 

Já parou pra pensar em como começou a epidemia de cesarianas agendadas e violência obstétrica do Brasil? Segue o fio para entender melhor...


Há décadas, séculos atrás, mulheres e recém-nascidos perdiam suas vidas durante o parto devido a sitações patológicas que impediam o parto de acontecer de forma segura. Após anos sendo desenvolvida e aprimorada, a cesariana surgiu para salvar as vidas que seriam perdidas nesses casos. E é para isso que ela serve: salvar vidas. Os estudos científicos apontam e a OMS preconiza que a cesárea precisa ser indicada em cerca de 10-15% dos nascimentos, por questões de segurança para mãe e bebê.


A cesariana é a maior das intervenções de parto e só deveria ser realizada quando os benefícios para sua realização superam os riscos de um parto vaginal, o que só acontece em casos muito específicos (que leva à aquele índice de cerca de 15% dos casos citado ali acima).


Acontece que desde que foi aprimorada e passou a ter uma taxa de sucesso alta, os médicos perceberam que poderia ser mais conveniente para eles atender essa via de nascimento. Nesse ponto, não só a cirurgia mas também outras intervenções que foram desenvolvidas para aumentar a segurança em casos específicos, passaram a se popularizar e a receber outro foco: conveniência médica/hospitalar (nascimentos com hora marcada), protocolarização para facilitar o funcionamento dos hospitais (estipulação de tempo máximo) e rentabilidade (mais nascimentos sendo assistidos em um mesmo intervalo de tempo).


Essa percepção de que a via cirúrgica poderia ser mais favorável para eles levou muitos profissionais da assistência obstétrica a inventar motivos que justificassem a "necessidade" de uma cesariana. É foi aí que surgiram os tantos mitos de indicação de cesárea.


Somada à banalização dessa via de nascimento, a popularização do uso de intervenções menos drásticas para "acelerar o parto" levou muitos profissionais a considerar o trabalho de parto inconvenite e longo de modo que, com frequência, utilizam de violência (física ou emocional) ao realizar intervenções. É aí que começa a epidemia de violência obstétrica que é, com razão, um dos maiores medos das mulheres em relação ao parto.


Todo esse cenário foi se fortalecendo aos longo dos anos e se estabeleceu como a cultura do nascimento no país, de modo que observamos agora uma inversão da naturalidade: o mais frequente passa a ser intervir e não deixar o corpo conduzir naturalmente e apenas intervir em casos específicos. Essa cultura leva a dois caminhos: ✨ Insere no subconsciente das mulheres a crença de que seus corpos não são capazes de parir e que muitas intervenções são, de fato, necessárias para que seus bebês nasçam com segurança;


✨ Leva mulheres a acreditar que é melhor passar por uma cirurgia de grande porte do que correr o risco de sofrer violência obstétrica durante o trabalho do parto, de serem invadidas e violentadas e se sentirem marcadas por isso durante toda a vida.


É um contexto que se retroalimenta: quanto mais nascimentos acontecem por via cirúrgica, mais é reforçado o pensamento comum de que a via cirúrgica de nascimento é a mais segura para mãe e bebê. Quantos casos você conhece de mulheres que tinham muito medo do parto normal, que escutaram histórias macabras que aconteceram com a filha da vizinha da sua mãe que "quase morreu tentando parto normal"? Ou então, quantos são os casos de mulheres que nem sequer cogitam parir seus filhos porque a mãe, a tia, a prima, as amigas, todas passaram por uma cesárea? Isso nos leva ao assunto do post anterior: a humanização da assistência obstétrica. Eu diria que o ensino e incentivo a um atendimento baseado na humanização e a educação perinatal são dois pilares-chave para tentar quebrar esse ciclo e trazer de volta para a mulher o protagonismo, tanto no momento do nascimento dos seus filhos, quanto em tantos outros contextos sociais.


Já tinha parado para pensar nisso? Conhece alguma mulher que se encaixa naqueles casos que eu descrevi ali em cima? Me conta e vamos conversar sobre isso, porque falar sobre esse assunto também é importante para quebrar o ciclo.


Um abraço,

- Leticia.

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